Resenha – Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder’s Justice League)
Zack Snyder’s Justice League – Sobre Deuses e Órfãos
ATENÇÃO – O texto contém spoilers sobre a nova versão do filme. Não leia se não quiser estragar sua experiência.
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Após quase 5 anos, o diretor Zack Snyder finalmente trouxe à vida a sua versão de Liga da Justiça. Lançado originalmente em 2017, o filme foi recebido com muito pouco entusiasmo pela crítica e a maior parte dos fãs.
Diretor do filme original, Snyder teve que ser substituído na produção do longa, após uma tragédia familiar. O escolhido pelos executivos da Warner para assumir o cargo foi o roteirista e diretor Joss Whedon, que já havia realizado grandes sucessos de bilheteria, como o primeiro filme dos Vingadores.
O que parecia ser uma escolha óbvia, se revelou um grande erro por parte da Warner. Apesar de premissas similares (um grupo de heróis se une para derrotar uma grande ameaça cósmica), os dois filmes partem de lugares muito diferentes.
Enquanto a Marvel havia construído um universo coeso de super heróis com o lançamento de filmes individuais para a maior parte de seus personagens antes da realização de Vingadores, a Warner/DC contava com apenas dois filmes anteriores: Homem de Aço e Batman vs Superman, ambos realizados e imaginados por Zack Snyder.
Isso fez com que Liga da Justiça tivesse a obrigação de apresentar a origem e motivação de diversos personagens, e ao mesmo tempo, manter o público interessado na ameaça do grande vilão. Whedon falhou miseravelmente nos dois pontos.
Para poder começar essa análise, um elefante branco precisa ser retirado da sala:
O Snyder Cut (como ficou popularmente conhecido entre os fãs) é melhor que o filme lançado em 2017?
Muito. Sob qualquer aspecto que o espectador resolva analisar as duas obras, é perceptível a superioridade do que Zack Snyder traz à tela, ainda que se deva ser honesto e admitir que esse não é o filme original.
Com um orçamento estimado de 70 milhões de dólares cedidos pela Warner, e o conhecimento do que havia sido criticado no filme original, Snyder teve algo que a maior parte das pessoas não tem. Uma segunda chance.
Em uma cena na fazenda dos Kent, Superman (Henry Cavill) fala pra Lois Lane (interpretada por Amy Adams) o que pode ser entendido como uma declaração de Snyder: “Eu tive uma segunda chance, e não pretendo desperdiçá-la.”
Talvez esse seja o maior problema do filme lançado pela HBO Max. Ele não é brilhante, não é excelente. Ele é só…um filme.
Algumas das alterações trazem de volta parte da ideia original do diretor, e funcionam muito bem. O arco dos personagens Cyborg (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller) são muito mais bem explorados, e tem relação direta com a solução da trama. Se no filme original o Flash havia sido retratado como inseguro e até, de certa forma, covarde, agora o personagem consegue participar da ação de forma muito mais eficiente e carismática, sem deixar de ser o alívio cômico da equipe.
A história de Victor Stone, o Cyborg, talvez tenha sido a mais bem desenvolvida, em relação ao longa lançado em 2017. Agora é possível entender melhor o passado do herói, sua relação com seu pai e como a sua transformação em herói passa pela dor da perda e o afasta do mundo.
Esses, inclusive, são temas centrais do SnyderCut. Após os acontecimentos que levam Superman à morte em Batman vs Superman, o mundo está de luto pela perda de seu maior herói. Muito do primeiro ato do filme trata sobre a forma como Lois Lane, Martha Kent (Diane Lane) e os demais personagens estão lidando com o fato.
Enquanto Diana Prince (interpretada por Gal Gadot) se dedica ao trabalho em um museu e impede crimes com seu alter ego de Mulher Maravilha, Batman (Ben Affleck) percorre o mundo tentando reunir uma equipe de heróis capaz de impedir o próximo grande conflito mundial.
Como era de se esperar, o conflito não estaria longe de surgir. Com a chegada do Lobo da Estepe (em uma versão com CGI muito melhorada, e com a voz do ator Ciarán Hinds) para tentar recuperar as Caixas Maternas que estavam “adormecidas” na Terra, a equipe precisa se unir em prol do bem maior.
O principal problema do filme, na opinião do autor deste texto, é o tempo que tudo isso leva para acontecer. Snyder sabe que tem todo o tempo do mundo para contar a sua história, e o faz sem nenhuma pressa. A quantidade de cenas em slowmotion e com fundo musical (características do trabalho do diretor) na primeira metade do filme beira o inaceitável. Snyder chega ao ponto de mostrar cenas como Lois Lane indo comprar café e um cachorro andando na rua em câmera lenta.
Como sempre, o diretor demonstra um senso estético muito apurado. Suas cenas são lindas de se ver, e o formato 4:3 da tela, escolhido pelo diretor para aumentar a sensação vertical do filme funcionam muito bem. Porém, não agregam muito conteúdo à história, além de demonstrar sua capacidade de filmar cenas bonitas.
Além disso, é importante ressaltar que Snyder considera os super heróis como mitos modernos, como divindades. E isso torna sua história tão distante do resto da humanidade quanto possível. Com exceção à cena do banco no início do filme, onde a Mulher Maravilha demonstra genuína preocupação com uma garotinha abalada pelos acontecimentos, todo o resto da trama acontece de forma distante, quase fria.
Optando por tratar de uma grande invasão dimensional, e de como os heróis mais poderosos da Terra se unem para impedir isso, o diretor deixa a história distante das grandes cidades, tanto geográfica quanto emocionalmente.
O final do filme ainda traz um epílogo, e uma sequência do Knightmare (um futuro apocalíptico onde o Superman vira um vilão fora de controle), mas essas cenas trazem a sensação de desconexão com o resto do filme, uma vez que a trama principal já havia sido solucionada. Apesar de trazerem mais detalhes sobre a visão de Snyder sobre o arco maior dos personagens, agora essas cenastem pouco sentido, já que esse plano não será concretizado.
No fim, a sensação que ZackSnyder´s Justice League passa é a de um enorme auto elogio feito pelo diretor. Da mesma forma que Snyder opta por colocar seu nome na frente do título, também opta por colocar seu estilo acima da história.
É um filme melhor que o original, sem nenhuma dúvida. Mas se é um bom filme, vai depender da interpretação, e do quanto o espectador é fã das obras do diretor.
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